SANTOS INCORRUPTOS.
O termo “incorrupto” não está relacionado
com não ceder à tentação de receber propinas divinas, nem com o não
envolvimento em negociações angelicais para a obtenção de benefícios celestes.
Estamos falando aqui dos intrigantes cadáveres de pessoas que foram
beatificadas ou canonizadas, mas que, por algum motivo misterioso, continuam
preservados — alguns deles há vários séculos.
Depois que um ser humano morre, a não ser que o corpo seja submetido a algum processo específico — seja natural ou intencional — de preservação, o cadáver passa por uma série de transformações nada agradáveis que, eventualmente, levam à sua completa decomposição.
No entanto, curiosamente, alguns santos aparentemente não passaram por nenhum desses processos e, em vários casos, a Ciência não conseguia — ou ainda não consegue — explicar a razão de seus corpos não terem se degradado. Isso porque, apesar de existirem casos de pessoas que driblaram a decomposição, quando são descobertos, os corpos desses indivíduos geralmente se encontram mumificados, petrificados ou viraram “sabão”, por exemplo.
Beata Anna Maria Taigi, San
Crisogono, Roma
Santa Paula Frassinetti, Convento di
Santa Dorotea, Roma
Por outro lado, no caso dos Santos
Incorruptos, quando eles foram exumados, mesmo depois de vários anos após sua
morte, muitos desses cadáveres apresentavam a mesma aparência — e às vezes até
a flexibilidade — que tinham em vida, dando a impressão de que estavam
dormindo. Além disso, seus corpos não mostravam sinais de terem sido
embalsamados, nem de terem sido enterrados em condições que favorecessem a
preservação.
Durante séculos, a Igreja Católica
Romana defendeu que apenas os indivíduos com os corações mais puros e de fé
inabalável eram capazes de resistir à decomposição, e ter o corpo incorrupto
inclusive era um dos requisitos para a beatificação e canonização. Tanto que
quando surgia algum candidato a santo no pedaço, um dos trâmites envolvia a
exumação do corpo para que membros da Igreja, médicos e cientistas pudessem
realizar a inspeção.
Além disso, nem sempre era necessário
que o corpo se encontrasse completamente incorrupto, e a presença de órgãos ou
membros preservados — como o coração, as mãos ou a língua — também era
considerada. A prática de exumar os aspirantes a santo persistiu até o século
20, e hoje em dia, a incorruptibilidade, apesar de ser um sinal favorável, não
é mais obrigatória para a beatificação ou canonização.
Atualmente, existem corpos
incorruptos em exposição em igrejas de várias partes do mundo, com a grande
maioria deles espalhada pela Europa. Alguns não resistiram à passagem do tempo
— e à ação do ambiente depois que foram exumados —, e finalmente se descompuseram.
Outros tantos foram embalsamados ou
protegidos por camadas de cera, prata e até ouro, mas ainda existem exemplares
que, misteriosamente, permanecem desafiando à passagem dos séculos.
Independente de seu atual estado de preservação — ou se hoje eles não passam de
múmias ou modelos —, todos se tornaram atrações e fascinam milhares de
peregrinos e curiosos todos os anos, e você vai poder conhecer alguns dos
Santos Incorruptos mais ilustres a seguir:
1 – Santa Bernadete de Lourdes
Santa Bernadete de Lourdes faleceu em
1879 e, em 1909, ou seja, trinta anos após a sua morte, o corpo permanecia
intacto. De acordo com os médicos que acompanharam a primeira exumação, o
cadáver se encontrava rígido, mas incrivelmente preservado. Em 1919, ocorreu
uma segunda exumação, e as condições do corpo de Santa Bernadete permaneciam as
mesmas, e o mesmo foi observado em 1925, na terceira exumação.
Nessa terceira ocasião, o corpo de
Santa Bernadete foi coberto com uma fina camada de cera e colocado em uma urna
— conforme você pode ver na imagem acima — e, desde então, ele se encontra em
exposição na Igreja de Saint Gildard, em Nevers, na França.
2 – Santa Catarina de Bolonha
Quando Santa Catarina de Bolonha
faleceu, em 1463, seu corpo foi enterrado diretamente na cova — sem o uso de um
caixão — e, até onde se sabe, não passou por qualquer processo de
embalsamamento. Após 18 dias, o cadáver foi exumado, e permanecia em perfeito
estado, sem mostrar qualquer sinal de putrefação.
Maestro Giovanni Marcanova, o médico
que examinou a santa na época, não conseguiu encontrar uma explicação para o
fato e, então, o corpo foi vestido com um hábito limpo e colocado em uma
cadeira.
Santa Catarina de Bolonha se encontra
até hoje — mais de 500 anos depois de sua morte — na Capela da Ordem das
Clarissas da Igreja de Corpus Domini em Bolonha, na Itália, e o seu corpo pode
ser visto através de uma proteção de vidro. Por certo, a coloração escurecida
da santa se deve à ação de milhares de velas que foram sendo queimadas pelos
fieis ao longo dos séculos.
3 – Santa Cecília
Não existem informações muito
precisas sobre a data na qual Santa Cecília foi martirizada, e sua história só
foi registrada no século 5. Mas acredita-se que ela foi condenada à morte por
decapitação entre anos de 176 e 180 por Turcius Almachius, o então prefeito de
Roma. Dizem que o carrasco não conseguiu separar a cabeça do corpo mesmo depois
de três golpes no pescoço de Cecília — e que ela ainda agonizou durante três
dias antes de finalmente morrer.
O corpo da mártir teria sido
encontrado incorrupto e na mesma posição em que foi abandonado entre os anos de
817 e 824, ou seja, mais de 600 anos após a sua morte. Mais tarde, em 1599,
Cecília voltou a ser exumada, e seus restos mortais permaneciam iguais. Foi
então que uma estátua reproduzindo a forma como o seu corpo foi descoberto foi
colocada sobre a tumba da santa, e ela pode ser visitada na Igreja de Santa
Cecília no Trastevere, em Roma.
4 – São Silvano
São Silvano se encontra em exposição
na Igreja de São Brás em Dubrovnik, na Croácia, e também é mais um exemplo
famoso de Santo Incorrupto. Ele foi martirizado com um ferimento no pescoço
durante o século 4, e até hoje — cerca de 1700 anos depois! — seu corpo ainda
existe. O cadáver provavelmente recebeu uma camada de cera para ser preservado,
mas, mesmo assim, é extraordinário que ele tenha resistido por tanto tempo.
5 – María de Jesús de Ágreda
María de Jesús foi uma freira
espanhola que morreu em 1665, e seu corpo se encontra até hoje em exposição no
Convento de la Concepción, localizado em Ágreda, na Espanha, onde ela foi
abadessa. Como você pode ver na imagem, uma estátua de Sor María foi criada
para marcar o local de sua sepultura, e o corpo incorrupto — sobre o qual foi
aplicada uma fina camada de cera para dar uma corzinha à freira — fica em uma
urna de vidro logo abaixo.
6 – Santa Rita de Cássia
Santa Rita de Cássia, a santa das
causas impossíveis, morreu em 1457, e seu corpo incorrupto — embora se encontre
bem desidratado atualmente — pode ser visitado na Basílica de Santa Rita em
Cascia, na Itália. Segundo alguns rumores, os olhos da santa já foram flagrados
se abrindo e fechando sozinhos, e ela também parece mudar de posição no
interior da urna de vidro que guarda o seu corpo.
7 – Santa Catarina de Labouré
Santa Catarina de Labouré faleceu em
1876, e quando o seu corpo foi exumado em 1933, ou seja, cerca de 56 anos após
sua morte, ele foi encontrado incorrupto. Dizem que seus olhos permaneciam tão
azuis como no dia em que ela morreu, e atualmente Santa Catarina de Labouré
pode ser vista em exposição em uma capela na Rue du Rac, em Paris.
8 – São João Maria Vianney
Também conhecido como o “Santo Cura
D'Ars”, São João Maria Vianney morreu aos 73 anos no início de agosto de 1859,
e foi sepultado usando uma máscara de cera. Mas quando seu corpo foi exumado em
obediência aos trâmites necessários para a sua beatificação, ele foi encontrado
incorrupto, e seu coração foi removido e colocado em um relicário. Atualmente,
São João Maria Vianney pode ser visitado no Santuário de Ars, na França.
9 – Padre Pio
Nascido em Pietralcina, na Itália, em
1887, Padre Pio foi um capuchinho que se tornou famoso por seus estigmatase
milagres. Após uma longa vida de devoção, ele morreu em 1968, na Igreja de
Santa Maria das Graças, localizada em San Giovanni Rotondo, na Itália.
Pio foi canonizado pelo Papa João Paulo
II em 2002, e seu corpo — supostamente — incorrupto foi exumado no início de
2008 e, desde então, se encontra em exposição em uma urna de vidro e é visitado
por milhares de peregrinos todos os dias.
10 – São Francisco Xavier
Também conhecido como “Apóstolo do
Oriente”, São Francisco Xavier nasceu em 1506, na Espanha, e não só ajudou a
fundar a Companhia de Jesus, como foi um dos maiores evangelizadores da Igreja,
atuando como missionário no Oriente, sobretudo no Japão e na Índia. São
Francisco morreu em dezembro de 1552, na China, mas, em fevereiro de 1553, ele
foi exumado e descoberto incorrupto. Aliás, a história do corpo do santo é uma
viagem!
Em março de 1553, após ser exumado, o
corpo de São Francisco foi levado a Malacca, na Malásia, onde foi sepultado em
um caixão com duas camadas de cal para acelerar o processo de degradação e
ajudar no transporte de seus ossos. Mas, para a surpresa de todos, passados
dois meses e meio, o cadáver foi novamente exumado e, depois de a cal ser
removida, o corpo permanecia intacto.
São Francisco foi mais uma vez
sepultado — com uma pitadinha de cal —, só que desta vez diretamente na terra.
Pois, em dezembro do mesmo ano, o santo continuava inteirinho e, como não dava
sinais de querer se decompor, ele foi enviado assim mesmo até Goa, que era o
local no qual São Francisco queria que seus ossos fossem enterrados.
Finalmente, em 1637, o corpo
incorrupto foi colocado em uma urna de vidro e prata, onde permanece até hoje
em exposição na Basílica do Bom Jesus. No entanto, depois de tantas idas e
vindas — e tanto tempo! — São Francisco Xavier se encontra um tanto quanto
deteriorado.
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