A sombra das redes sociais
A revolução digital mudou a forma
como as pessoas se relacionam, trabalham, descansam. Não há dúvida das
vantagens que a internet proporciona, como economia de tempo, praticidade,
proximidade e possibilidade de conexão com pessoas de interesses semelhantes.
Porém, como tudo na vida, a rede também tem um lado ruim. Embora ainda não
existam dados específicos sobre a influência das redes sociais no índice de
suicídio, o assunto começa a chamar a atenção. André Brasil Ribeiro, presidente
da Associação Psiquiátrica da Bahia e membro da Associação Brasileira de
Psiquiatria, estuda a relação entre tecnologia da informação e medicina há mais
de duas décadas. Atualmente, seu enfoque é em mídias sociais.
Em setembro passado,
em função da campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo, o médico
participou de alguns estudos em parceria com desenvolvedores do Facebook para
descobrir quantas menções relacionadas a suicídio eram feitas pelos brasileiros
diariamente. O resultado foi chocante: por dia, o tema é mencionado cerca de 16
milhões de vezes, só no Brasil. "Isso é sinal de que o tema é cotidiano na
vida de muita gente", alerta o especialista.
A preocupação maior é com a saúde mental de jovens e adolescentes. "Quando
você vê algo nas redes sociais, pode reagir àquela postagem com ‘curti’,
‘amei’, ou ‘uau’. Mas qual a alternativa para as postagens sobre
suicídio?", questiona André Ribeiro. O fato é que Twitter, Tumblr,
Instagram, Facebook e Google já estão aptos a identificar postagens com teor
suicida e indicar alternativas. No Facebook, por exemplo, há a opção de
denunciar esse tipo de conteúdo. Se isso ocorrer, o autor será reencaminhado
para uma página de ajuda (com mais de 150 mil visitas por dia). No caso do
Google, o site identifica intenções suicidas a partir dos termos buscados e
direciona para o Centro de Valorização da Vida (CVV).
Em suas pesquisas, André Ribeiro descobriu diversos "grupos da
morte": comunidades em que usuários postam orientações e pedem dicas de
como tirar a própria vida. "Muitos perguntam qual é o método mais eficaz e
indolor. Os adolescentes estão glamorizando a morte nas redes sociais",
afirma. Na Índia, país com maior taxa de grupos da morte no mundo, segundo o
médico, há redes sociais exclusivas para suicidas. Lá, os participantes
compartilham fotos e vídeos de mutilações e até marcam encontros para cometer
suicídio. "Perfis que incentivam essa atitude estão tomando proporções
assustadoras", alerta.
Justamente por isso, o psiquiatra frisa: é importante falar sobre o assunto e
ajudar quem parece estar inclinado a cometer suicídio. "A internet pode
ser fatal ou vital. Temos que partir de onde o ato começa a ser planejado: as
redes sociais", reforça. Segundo ele, do ponto de vista estatístico, até
2020, o Brasil pode se tornar o terceiro país do mundo em número de suicídios.
Atualmente, a posição é ocupada pela Rússia, com 22 suicídios a cada 100 mil
habitantes — bem mais que a taxa mundial de 7 suicidas a cada 100 mil pessoas.
"Não podemos deixar essas postagens passarem em branco. Ao vermos algo do
tipo, temos que denunciar imediatamente."
Por: André Ribeiro
Comentários
Postar um comentário