POESIA FILOSÓFICA

O que agora faz toda a nossa felicidade ou todo o nosso sofrimento talvez não seja, num instante, mais que o véu de um sentimento ainda mais profundo que se esvairá em si mesmo quando aparecer o que for de mais elevado preço em forma de novo. É assim que nossos humores não cessam de se aprofundar e nenhum dentre eles se assemelha exatamente aos outros; cada um deles é de uma insondável juventude, pois é essa juventude que faz nascer o instante.

A saúde para os humores são estranhas modificações de uma alma em tempestade, de modelos diversos como é a natureza, porém ainda maiores que a própria natureza, porque os seres humanos não cessam de subir, de procurar se elevar. Ao contrário da planta que exala ainda o mesmo perfume do dia em que foi criação e fecundada pela terra, eu, contudo, não amo mais como eu amava há algumas semanas, mudei. E neste momento, eu já não tenho mais o mesmo humor de quando comecei este texto. Logo, estou em plena mudança.

Essas mudanças nos remete a combates diários, num constante alimento da alma. E assim a alma destrói tudo oferendo à luz o novo; ela luta com violência ao mesmo tempo que atrai docemente seu adversário para se unir a ela intimamente. O mais estranho é que a alma nunca se preocupa com o aspecto exterior, com o nome, com a pessoa, com a região, com as belas palavras, com os traços de uma escrita; tudo isso para ela só tem um valor subordinado, porque ela só aprecia o que está sob a casca.

Mas há de ser sabido que a força de acolhimento da alma não é inteiramente submetida ao querer; a alma é feita da mesma matéria que os acontecimentos análogos, inspirando mútua sintonia. Pode ocorrer por mero equívoco de compensação inexplicável ao nosso saber que um acontecimento, mesmo não tocando nenhuma corda a ela aparentada, faça pesar toda a intensidade de um humor denso, findando por exercer tamanha pressão em restritos limites numa explosão, constituindo, aliás, naquilo que é o conteúdo da alma.