UM CHARME PÚBLICO CHAMADO: GRANDE OTELO

Às vezes me pergunto se há uma boa vantagem em ser servidor público. Mas foi num desses instantes que me deparei com uma preciosidade esquecida em um canto de sala, e de imediato me dei conta, navegando em meus pensamentos, que construir vantagens compatíveis com a  carreira pública pode exigir, dentre outras habilidades,  uma boa dose de humor.

Jogado em uma sala a foto do grande mestre Grande Otelo. O ator havia sido Assistente Técnico no Ministério do Trabalho por 18 anos, de 1954 a 1972, tendo dividido seu tempo nesse período entre os sets de filmagem e o Ministério. Esse ilustre colega, Sebastião Bernardes de Souza Prata, o eterno Macunaíma, foi assiste do serviço de recreação. Alí participou das elaboração do anteprojeto que regulamentava a profissão de artista e ministrou cursos de interpretação numa escola criada pelo então delegado regional do trabalho.

Como costumava acontecer na época, o ator conseguiu o emprego graças a uma amigo. No caso, o Jornalista José Gomes Talarico, ligado ao então Ministro do Trabalho, João Goulart. Em uma das edições da revista Noite Ilustrada, Otelo se diz orgulhoso com o novo posto na área pública, onde podia colaborar e escrever com seu cativante bom humor, como transcrevo nesta passagem: " O papai aqui deverá ser nomeado assistente técnico de serviço de recreação do Ministério do Trabalho. Tá bom, não tá?" A nomeação ocorreu em 17 de fevereiro e nesse mesmo dia ele chegou a transcrever a portaria em sua coluna.

O ano de 1954 foi pontuado por outros acontecimentos marcantes na vida de Grande Otelo: ficou noivo de Olga vasconcelos de Souza, que anunciou no fim daquele ano estar grávida. Ainda naquele ano filmou Matar ou Correr, dirigido por Carlos Manga, a sua última parceria com Oscarito, com quem formou uma das duplas mais célebres do cinema brasileiro. Os dois começaram a trabalhar juntos no ano de 1940, atuando em uma série de comédias. Uma das mais famosas e de grande sucesso na época foi a chamada Esse Mundo é Um Pandeiro, dirigido por Watson Macedo.

Com o golpe militar de 1964, Grande Otelo teve de se empenhar para manter-se no cargo. Estreou como apresentador do programa  O Fim de Semana do Homem Público na Rádio Mauá. Assim, o artista pretendia conquistar a simpatia de políticos ligados ao novo governo. O objetivo era mostrar o lado humano do alto escalão, as suas preferências culturais, gestos artísticos, etc. Entrevistou nomes como Vieira de Melo, Secretário da Educação da Guanabara, e Ricardo Cravo Albin, Diretor-presidente do Instituto Nacional de Cinema.

Depois da assinatura do Ato Constitucional Nº 5 - o AI 5 - em 13 de dezembro de 1968, Grande Otelo foi colocado em disponibilidade pelo próprio Ministro do Trabalho. O motivo: ele seria um servidor relapso. Abalado, o ator resolveu protestar endereçando uma carta ao Ministro. Tempos depois, conseguiu reverter a situação e dizem, nos bastidores, que " nem a ditadura conseguiu resistir ao seu charme".

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